segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sentado à varanda sorvia cigarros embriagando os sentidos. Magro não era, mas escanzelado na atitude; o que lhe conferia um ar pouco saudável.
O mal vinha-lhe de dentro.
A consciência abalava-lhe o prazer, tornado as noites em espirais de tédio.
"Tanta complicação!" - apregoava - quando era ele quem mais complicava o trivial e ordinário: sentir.
Levantou-se numa atitude de desprezo, daquelas de quem não quer saber; que o interesse é pouco!
Altivo, mas sem presunção, retirou-se do confronto com o inevitável; os olhos falavam-lhe muito alto e os lábios faziam-lhe escapar a hipocrisia.
Mas escolheu parar.
Demorou-se, ainda que brevemente, lá fora.
Sentiu um peso que o impedia de avançar. Colou-se-lhe ao peito um frio estranho. Caiu, prostrado, mas não levou as mãos a si; olhou para elas e renegou-as por terem obedecido à consciência, que agora, de nada lhe valia.
Não foi medo o que sentiu; mas arrependimento por não ter ido mais longe; por ter ficado naquela varanda. 

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