ABUTRE
O
abutre acordou aterrorizado com a angústia que adivinhava o arquivamento da
alma. A alternativa era acreditar que o aumento antagónico, desta abertura para
o além, lhe aliviaria a amargura atroz que o arqueava. Assim, aderiu a
adivinhos, amêndoa amarga e analgésicos que amenizaram os ácidos que lhe
afogavam o âmago. Alheio, adormeceu.
BARATA
A
barata bebia bagaço e banalizava bacanais. Brotava um bafo a bafio e balizava o
banditismo entre o barulhento e o barroco. Bazófias e bebedeiras eram bibelots
do seu baú. Bissexual, boémia e bulímica burocratizava o bairrismo básico do
batoteiro do botequim. À barata bastou-lhe um bluff com baralho para bramir
brutalmente ao bioterrorismo!
CENTOPEIA
A
centopeia corria com carradas de cafeína e cigarros, no contínuo costume de
concretizar certezas. Cercava-se de um certo cuidado; e a consciência cruel
cravada no cérebro. Contudo, a cidade continha concorrência, e a canalha
comercial confundia-se no comum caminho da competência. Confusa, caiu no
consumo de conhecimento e começou a controlar o correr, cedendo-o a caminhadas
calmas que a conduziram à comicidade da companhia de cadáveres. Sem culpa de
correr, contente, continuou o seu caminho.
DONINHA
A
doninha dizia distinguir disfarces, disparates e disfunções. Destemida e
determinada, dialogava esta destreza diariamente. Denunciava, nesta dinâmica, a
demência dura de que dependia. Deixou-se dominar pela doença, danificando o
discurso decorado com dedicação. Decidiu dramatizar a durabilidade dos dias,
ditando a derrota de Deus. Despiu-se e deambulou com dormência e descrédito.
Doravante, deverá disfarçar-se sem demora nos disparates que a demência lhe
determina. Depois, despojada, dedicar-se-à docilmente à dor.
ELEFANTE
O
elefante estava extremamente envolvido em empresas de espionagem. Equacionava
educar essa elite, elevando-a a estatuto eloquente. Estranhava, no entanto, o
estrago emergente de enfatizar emoções. Encarregou-se de enlatar elaboradas
ervas e encharcou-se em
etanol. Eclipsou num embalar estranho e elegeu errar, para
educativamente emoldurar o enlace. Entretanto, o esófago esponjoso estampou-se-lhe
no estômago e, excluindo-se, escolheu enforcar-se.
FORMIGA
A
formiga fotografava famosos. Frequentava festas formidáveis e forçava-se a
frenesins familiares. Firme e faladora, folheava de forma fugaz folhetos com
figuras formosas. Fumava com fervor, fantasiando fazer filmes fortes que
fatalmente fossem fogo para os fracos. Focou firmemente a frase que fugia do
formato final. Figurativamente, a faca fintava-lhe a forma fragilizada pelos
fármacos. Fictícia era a firmeza que frequentemente farejava na fiel fuga.
Feliz e falida, fez fama da ferida de que faltava falar.
GIRAFA
Grande
gulosa, gamava gomas à gente gira do gang. Gostava do gnomo Gilberto…gelava-lhe
a garganta, gravitava e grunhia num gesto que lhe gotificava a greta. Gilberto
ganhava por garantir gemidos com grande genialidade. Grava a glória e garante a
gélida geriatria. Gloriosamente garantia o gostar da Girafa.
HIPOPÓTAMO
O hipopótamo
histérico e hipocondríaco, humanizava, hipoteticamente, heróis honrando-os com
humor. Havia herdado habilidades hostis que horripilavam os hóspedes do hotel
que habitava. Hoje, as horas humidificam-lhe a história num holograma, humilhado
pelos holofotes hermafroditas.
IGUANA
Igual
a inúmeras imitações idiossincráticas da imaginação, inaugurava imagens
inanimadas na ilusão de ilustrar impérios. Inútil, ignóbil e irritante
interpretava indícios. Instalada na incompreensão e na ignorância, implorava
por isqueiro. Isto iria impor-se ao ímpeto inquietante de ignorar
irascibilidades. Indecisa, imortalizou-se na imensidão da igualdade e impura
iluminaria a indecisão que se instalará intermitentemente.
JAVALI
Jurava
jazer jovialmente num jantar. Jorrava-lhe, justamente, a juventude na já
jeitosa jantarada. Com jejum e jazz, jurou, à janela, ser janado.
Janota,
julgava justificar a janotice com justiça, jactando.
Jovem,
não julgues!
Junta
jogadas justas que não jorrem julgamentos jocosos.
LEÃO
Livreiro,
lírico, louro, levava lentamente a loucura a lugares longínquos. Legitimamente
labrego, limitava-se a localizar livros de leste para lingrinhas que lotavam o
largo da livraria. Lentes largas localizavam o lote. A língua lembrava licores,
o lema e a labuta não ligavam…mas a liberdade tem limites.
MACACO
Missionário
místico, martirizava a multidão que se movesse mundanamente. Miseravelmente
mordaz, mastigava morosamente a merenda mandada aos mendigos. Mandava mensagens
motivadas pela malvadez mascarada de misericórdia. Mais que a maldade era o
mexerico que o movia. Mostrava-se matreiro ao manipular as meretrizes,
mantendo-as mercadoria marginalizada. Mantém-se manifestamente maculado, mas a
morte misteriosamente mora em medir-lhe o medo.
NOITIBÓ
Naquele
Novembro nostálgico, ninguém necessitou de narrativas. Notabilizou-se o noitibó
por nascer. Nevava na nobre nação. Nu no ninho, negligenciou a natureza. Na
névoa era notório o níquel que navegava. Nesta nuvem nasciam notícias
negativas. O nariz novo não notou nada. A novela negra norteou a novidade e
noitibó nunca namorará nem narrará a noite de natal.
OSGA
Optimista,
organizava orgias. O olhar orgulhoso omitia o ónus do ofício: ostentar!
Oscarizada
ouvia os outros, ortodoxos, que obliteravam o ouro que ornamentava.
Ostracizava-os
por osmose.
Em
orquestra, ossos e órgãos omitiam o ócio. Os óleos ordenavam que ouvisse o
Olimpo!
PULGA
A
pulga proferia poesia pura e prometia paraísos plagiados de postais pitorescos,
com panoramas passados. Procurava com preocupação um par que pintasse partes
profundas do pensamento. Pedia procissões ao povo para premiar profetas e
prostitutas. A pulga pensava participar em paradas promiscuas porém,
precaveu-se…pereceu sem piedade papal nem privacidade!
QUETZAL
O
quetzal queria um quarto quadrado e quente. Queixava-se da quietude do quintal
e das quermesses da quinta. Qualificava as querelas como quimeras quotidianas e
questionava as quartas-feiras. O quetzal é um querido…quando quer!
RATO
Ralhava
ruidosamente na razão de requerer romarias na rua. Restava-lhe a resmunguice
para reclamar o repasto. Raramente receava a rebeldia da ralé que o rodeava,
pois redigia rapidamente relatórios repletos de regras e regalias.
Rigoroso,
regia a redacção e repartia a riqueza.
Rotulava
religiosamente rancores, ruminando restos de recibos.
Recriava
rastos e reciclava rolhas.
Relutante,
rastejou rumo à ratoeira da revolução, reivindicando rímel para as rameiras da
rua. Retornou de rosto e roupa rasgada mas reluzente e risonho pelo respeito
recebido.
SAPO
Sabiamente
seduzia a sobriedade dos seus senhorios para safar-se.
Sagaz,
saboreava da sanidade que sabia sempre sentir, sem supor que suava ao subestimar
a sensibilidade social.
Sonhava
ser saxofonista, só que a sina saiu-lhe sem sorte.
Sentimental,
supunha serem suficientes os sentidos para se safar sozinho aos sábados.
Sorria
e serpenteava a sala sem sentinela só para sanar a saudade de uma sagres.
A
sua sentença satânica seria sumir-se sem som, selado na simetria da surpresa
que num susto soube socorre-lo.
TARTARUGA
Triste
e teimosa, trovava tardiamente em tabernas.
Trabalhava,
todavia, num talho onde trocava a tolice por tostões. Todas as tardes tentava
telefonemas trocistas que tacteavam a tristeza.
Terminava
as terças tesa, pelas tosgas de tinto e tremoços com tomilho. Turvava-lhe a
timidez e tropeçava na tentativa de travar a turbulência tenebrosa.
Tensa,
torcia a terrível testa, tacteando o tamanho dos trocos.
Temia
que o tempo a tomasse também como um trocadilho telefónico sem tino.
URSO
Usava
unguentos ucranianos úteis à úlcera que lhe usurpava a uretra.
Ultimamente
a urticária era uma unidade univalente quando urinava. A urgência em untar-se
ultrapassava a unanimidade.
Uma
unhada, um uivo…ultrajou o universo e uma urna ultimava a utopia.
Utente
urbano, usurpou unções e urânio que usou unicamente para unificar a sua última ufania.
Universitário era o único utensílio útil para a uniformização.
VEADO
Vivia
viciado em vídeos voláteis e versejava vagamente com voz verosímil.
Vesgo,
vaidoso e vocacionalmente vadio, vendia violetas às viúvas da vila.
Virtudes
vãs e vergonhas velhas vaticinavam a vida vil do veado. Vertia-lhe da vesícula
a verdade vermelha e viscosa que venerava com veemência.
Vencido,
verifica a vida que lhe varre veloz.
Violentamente
as vozes vivas, que lhe valiam a vontade, vislumbram a vergonha que veste e
vergam.
Vociferou
vorazmente virando o verbo ao verdadeiro valor!
Visto
não voltar à vaga de vivacidade, em vexame votou-se à virulenta e vulgar
violência.
XAPUTA
Xerife,
xilofonista e chalada por xícaras de xarope com xerez, cheirava xantina.
Xenófoba
e xamã…chamavam-na xexé por usar xaile de xadrez e chapéu cheio de xantenas
chafurdadas em chulé.
Chovia
charme com a sua xenomania, chateando-se com xacocos. Chamuscava-os até chiarem
das chacras.
O
choque de um xantoma chacinou-lhe o cheiro e chocalhou-lhe os xerafins.
Mas
a xaputa não tinha chavo… e por um xelim chicoteava xeque-mates…com x-acto!
ZEBRA
Zelosa,
zangava-se com o Zacarias por zombar da sua zarolhice.
Zarpava
de Zundap, qual Zorro, quando um zumbido de zarabatana lhe fez ziguezague e a
deixou zambeta.
Ainda
zonza ouviu o Zé zombar na zona e fez zaragata.
Zafimeira,
tornou-se zen num zoom ao zodíaco.
Num
zurro tornou-se zaco no Zaire.
Mas,
zarelha, ficou zorate e tornou-se zabaneira no zoológico.