terça-feira, 6 de março de 2012

Mamilaço: O Último Mecatrónico

Amílcar, técnico especializado em arranjos de máquinas.
Amílcar gozava da sorte de ser o último e único mecatrónico em todo o distrito. A sua reputação extendia-se além clientela e todos os habitantes o olhavam com especial reverência e particular curiosidade. Amílcar sentia-se como um rei. O rei das máquinas destroçadas. O especialista em maquinaria e electrónica pesada. Tudo parecia correr sobre rodas até àquele dia fatídico.
Amílcar opinava sobre a sorte com o adagio pessoal de que esta não se apanha. Para Amílcar, a sorte era algo que apenas se conquistava através de trabalho árduo e dedicação. Essa coisa da sorte era para preguiçosos a precisar de desculpas. Desta feita, Amílcar repudiava tudo o que envolvesse mesinhas e superstições.
4 de Março. Bolo de Aniversário do Amílcar. As velas pujantes na chama que parece dançar ao som dos parabéns; e há alguém que grita: "Pede um desejo!". Amílcar sorri com desdém e presenteia-se dirigindo o seu adagio ao alguém preguiçoso. Ao sair a última silaba dos lábios de Amílcar, ouve-se um estrondo e tudo fica escuro.
Amílcar acorda dois dias depois numa cama de hospital.
Sem entender o que aconteceu, Amílcar sente que deve sair dali o mais rápido possível. Sai do quarto e, sem dificuldade, encontra a rua deixando o Hospital para trás. Percorre as ruas da vila numa fuga pesarosa. O ar parece-lhe diferente. Esconde-se. Ajoelha-se e leva as mão ao peito, que lhe pesa e aflige. Amílcar começa a lembrar-se do sucedido: as palavras sobre a sorte; o barulho estridente das gargalhadas; a cera a derramar das velas para o seu peito...Amílcar espreita para dentro da bata hospitalar..."NÃOOOOOO!"
Os seus mamilos estão completamente erectos e cinzentos. Amílcar toca-lhes e compreende que os seus mamilos são agora de aço.
Foge para casa. Tranca a porta. Corre para a casa de banho e toma o duche mais longo da sua vida.
A campainha toca. Quem quer que seja não desiste. A campainha toca insistentemente.
Amílcar veste-se e procura saber quem tem tanta urgência em falar consigo.
"Quem é?"
"Amílcar! É o Santos da oficina. ´Tás melhor? Tens que ir à fábrica!"
Amílcar acalma-se e pensa que talvez ninguém notará a diferença; até porque os seus mamilos já aparentam ter voltado ao normal.
Amílcar sai de casa exibindo a mesma atitude de sempre; mas hoje irá aprender uma lição que mudará toda a sua existência. 
Amílcar chega à fábrica e anuncia a sua presença: "Foi aqui que pediram um Mecatrónico!"
E é essa a deixa para que os seus mamilos se tornem novamente em aço e rebentem com a sua camisa; expondo-os...de proporções palacianas e de incrível resistência!
Amílcar é agora olhado com horror. Os olhos que outrora o viam com reverência espelham agora o medo e o terror.
Amílcar foge.
Nunca mais ninguém saberá dele.
Amílcar acha que a sorte não existe...mas pelo sim pelo não...também não custa  prevenir!