segunda-feira, 6 de maio de 2013

ODE

Militante do esquecimento
Perpetua a propaganda
Marcha no tempo cruel
Sem fé nem aliança.

Passa de língua enrolada
Olhos vazios, em loucura
Esconde a névoa anunciada
Nesta noite de amargura.

Vocifera em surdina
As raivas que leva dentro
Queixumes e cobardias
Nem as quer o vento.

Pára de dedo esticado
Apontado o infinito
O éter imobilizado
Preenche mais um vazio.

Cambaleia na sujidade
Perfumando a rua deserta
Não haveria novidade
Não fosse ele poeta.

Sem propósito ou vontade
Apenas as folhas o seguem
A dor e a verdade
Moradia lhe concebem.

Desaparece sem rasto
Atrás do que não vê
O inferno é a eternidade
E ele morre outra vez.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

1º Esboço para Dois Zombies num Copo de Shot

Um homem gasto pelo tempo e pela vida

  • mãos decrepitas
  • olheiras e duplas olheiras
  • boca descaída
frequenta diariamente o mesmo bar numa vila despovoada.
Uma noite entra no bar para o encontrar cheio de homens contratados para trabalhar nas minas de ouro, descobertas a poucos quilómetros da vila.
Compra uma garrafa de Bourbon  e vai para casa.
Bebe, sozinho, no alpendre da sua casa com vista para os campos de minas de ouro.
Devaneia palavras.
Adormece.
Acorda com um calafrio no estômago.
O tempo parece ter parado.
Sente um aperto no peito.
Enche o copo de shot com bourbon.
Bebe.
Repete 3 vezes.
Continua a não ouvir nada, mas é um silêncio que o ensurdece.
Leva as mãos aos ouvidos.
Levantasse e cambaleia.
Detrás da porta de casa retira a caçadeira e senta-se, novamente no alpendre, a fintar o nada.
Dor aguda nos ouvidos.
Mais um copo de bourbon.
Dor aguda no peito.
Mias um copo de bourbon.
Passam vultos à sua frente que lhe restauram a audição. Mas a velocidade com que os vultos passam deixam-o agitado.
Mais um copo de bourbon.
Vultos que passam velozmente.
Mais um copo de bourbon.
A ansiedade e medo fazem com que dispare a caçadeira contra o vazio.
O ruído volta a ensurdecê-lo. Mãos aos ouvidos.
Comprime contra o corpo a caçadeira.
Pega na garrafa vazia e em desespero aponta a caçadeira à garganta, com o corpo da caçadeira preso entre as pernas. Olha o céu estrelado e prime o gatilho.
Nada.
Prime novamente.
Nada.
Grita e corre para o vazio...onde ganha velocidade.