sexta-feira, 19 de abril de 2013

POESIA ANIMAL



ABUTRE

O abutre acordou aterrorizado com a angústia que adivinhava o arquivamento da alma. A alternativa era acreditar que o aumento antagónico, desta abertura para o além, lhe aliviaria a amargura atroz que o arqueava. Assim, aderiu a adivinhos, amêndoa amarga e analgésicos que amenizaram os ácidos que lhe afogavam o âmago. Alheio, adormeceu.

BARATA

A barata bebia bagaço e banalizava bacanais. Brotava um bafo a bafio e balizava o banditismo entre o barulhento e o barroco. Bazófias e bebedeiras eram bibelots do seu baú. Bissexual, boémia e bulímica burocratizava o bairrismo básico do batoteiro do botequim. À barata bastou-lhe um bluff com baralho para bramir brutalmente ao bioterrorismo!

CENTOPEIA

A centopeia corria com carradas de cafeína e cigarros, no contínuo costume de concretizar certezas. Cercava-se de um certo cuidado; e a consciência cruel cravada no cérebro. Contudo, a cidade continha concorrência, e a canalha comercial confundia-se no comum caminho da competência. Confusa, caiu no consumo de conhecimento e começou a controlar o correr, cedendo-o a caminhadas calmas que a conduziram à comicidade da companhia de cadáveres. Sem culpa de correr, contente, continuou o seu caminho.

DONINHA

A doninha dizia distinguir disfarces, disparates e disfunções. Destemida e determinada, dialogava esta destreza diariamente. Denunciava, nesta dinâmica, a demência dura de que dependia. Deixou-se dominar pela doença, danificando o discurso decorado com dedicação. Decidiu dramatizar a durabilidade dos dias, ditando a derrota de Deus. Despiu-se e deambulou com dormência e descrédito. Doravante, deverá disfarçar-se sem demora nos disparates que a demência lhe determina. Depois, despojada, dedicar-se-à docilmente à dor.

ELEFANTE

O elefante estava extremamente envolvido em empresas de espionagem. Equacionava educar essa elite, elevando-a a estatuto eloquente. Estranhava, no entanto, o estrago emergente de enfatizar emoções. Encarregou-se de enlatar elaboradas ervas e encharcou-se em etanol. Eclipsou num embalar estranho e elegeu errar, para educativamente emoldurar o enlace. Entretanto, o esófago esponjoso estampou-se-lhe no estômago e, excluindo-se, escolheu enforcar-se.

FORMIGA

A formiga fotografava famosos. Frequentava festas formidáveis e forçava-se a frenesins familiares. Firme e faladora, folheava de forma fugaz folhetos com figuras formosas. Fumava com fervor, fantasiando fazer filmes fortes que fatalmente fossem fogo para os fracos. Focou firmemente a frase que fugia do formato final. Figurativamente, a faca fintava-lhe a forma fragilizada pelos fármacos. Fictícia era a firmeza que frequentemente farejava na fiel fuga. Feliz e falida, fez fama da ferida de que faltava falar.

GIRAFA

Grande gulosa, gamava gomas à gente gira do gang. Gostava do gnomo Gilberto…gelava-lhe a garganta, gravitava e grunhia num gesto que lhe gotificava a greta. Gilberto ganhava por garantir gemidos com grande genialidade. Grava a glória e garante a gélida geriatria. Gloriosamente garantia o gostar da Girafa.

HIPOPÓTAMO

O hipopótamo histérico e hipocondríaco, humanizava, hipoteticamente, heróis honrando-os com humor. Havia herdado habilidades hostis que horripilavam os hóspedes do hotel que habitava. Hoje, as horas humidificam-lhe a história num holograma, humilhado pelos holofotes hermafroditas.

IGUANA

Igual a inúmeras imitações idiossincráticas da imaginação, inaugurava imagens inanimadas na ilusão de ilustrar impérios. Inútil, ignóbil e irritante interpretava indícios. Instalada na incompreensão e na ignorância, implorava por isqueiro. Isto iria impor-se ao ímpeto inquietante de ignorar irascibilidades. Indecisa, imortalizou-se na imensidão da igualdade e impura iluminaria a indecisão que se instalará intermitentemente.

JAVALI

Jurava jazer jovialmente num jantar. Jorrava-lhe, justamente, a juventude na já jeitosa jantarada. Com jejum e jazz, jurou, à janela, ser janado.
Janota, julgava justificar a janotice com justiça, jactando.
Jovem, não julgues!
Junta jogadas justas que não jorrem julgamentos jocosos.

LEÃO

Livreiro, lírico, louro, levava lentamente a loucura a lugares longínquos. Legitimamente labrego, limitava-se a localizar livros de leste para lingrinhas que lotavam o largo da livraria. Lentes largas localizavam o lote. A língua lembrava licores, o lema e a labuta não ligavam…mas a liberdade tem limites.

MACACO

Missionário místico, martirizava a multidão que se movesse mundanamente. Miseravelmente mordaz, mastigava morosamente a merenda mandada aos mendigos. Mandava mensagens motivadas pela malvadez mascarada de misericórdia. Mais que a maldade era o mexerico que o movia. Mostrava-se matreiro ao manipular as meretrizes, mantendo-as mercadoria marginalizada. Mantém-se manifestamente maculado, mas a morte misteriosamente mora em medir-lhe o medo.

NOITIBÓ

Naquele Novembro nostálgico, ninguém necessitou de narrativas. Notabilizou-se o noitibó por nascer. Nevava na nobre nação. Nu no ninho, negligenciou a natureza. Na névoa era notório o níquel que navegava. Nesta nuvem nasciam notícias negativas. O nariz novo não notou nada. A novela negra norteou a novidade e noitibó nunca namorará nem narrará a noite de natal.

OSGA

Optimista, organizava orgias. O olhar orgulhoso omitia o ónus do ofício: ostentar!
Oscarizada ouvia os outros, ortodoxos, que obliteravam o ouro que ornamentava.
Ostracizava-os por osmose.
Em orquestra, ossos e órgãos omitiam o ócio. Os óleos ordenavam que ouvisse o Olimpo!

PULGA

A pulga proferia poesia pura e prometia paraísos plagiados de postais pitorescos, com panoramas passados. Procurava com preocupação um par que pintasse partes profundas do pensamento. Pedia procissões ao povo para premiar profetas e prostitutas. A pulga pensava participar em paradas promiscuas porém, precaveu-se…pereceu sem piedade papal nem privacidade!

QUETZAL

O quetzal queria um quarto quadrado e quente. Queixava-se da quietude do quintal e das quermesses da quinta. Qualificava as querelas como quimeras quotidianas e questionava as quartas-feiras. O quetzal é um querido…quando quer!

RATO

Ralhava ruidosamente na razão de requerer romarias na rua. Restava-lhe a resmunguice para reclamar o repasto. Raramente receava a rebeldia da ralé que o rodeava, pois redigia rapidamente relatórios repletos de regras e regalias.
Rigoroso, regia a redacção e repartia a riqueza.
Rotulava religiosamente rancores, ruminando restos de recibos.
Recriava rastos e reciclava rolhas.
Relutante, rastejou rumo à ratoeira da revolução, reivindicando rímel para as rameiras da rua. Retornou de rosto e roupa rasgada mas reluzente e risonho pelo respeito recebido.

SAPO

Sabiamente seduzia a sobriedade dos seus senhorios para safar-se.
Sagaz, saboreava da sanidade que sabia sempre sentir, sem supor que suava ao subestimar a sensibilidade social.
Sonhava ser saxofonista, só que a sina saiu-lhe sem sorte.
Sentimental, supunha serem suficientes os sentidos para se safar sozinho aos sábados.
Sorria e serpenteava a sala sem sentinela só para sanar a saudade de uma sagres.
A sua sentença satânica seria sumir-se sem som, selado na simetria da surpresa que num susto soube socorre-lo.

TARTARUGA

Triste e teimosa, trovava tardiamente em tabernas.
Trabalhava, todavia, num talho onde trocava a tolice por tostões. Todas as tardes tentava telefonemas trocistas que tacteavam a tristeza.
Terminava as terças tesa, pelas tosgas de tinto e tremoços com tomilho. Turvava-lhe a timidez e tropeçava na tentativa de travar a turbulência tenebrosa.
Tensa, torcia a terrível testa, tacteando o tamanho dos trocos.
Temia que o tempo a tomasse também como um trocadilho telefónico sem tino.

URSO

Usava unguentos ucranianos úteis à úlcera que lhe usurpava a uretra.
Ultimamente a urticária era uma unidade univalente quando urinava. A urgência em untar-se ultrapassava a unanimidade.
Uma unhada, um uivo…ultrajou o universo e uma urna ultimava a utopia.
Utente urbano, usurpou unções e urânio que usou unicamente para unificar a sua última ufania. Universitário era o único utensílio útil para a uniformização.

VEADO

Vivia viciado em vídeos voláteis e versejava vagamente com voz verosímil.
Vesgo, vaidoso e vocacionalmente vadio, vendia violetas às viúvas da vila.
Virtudes vãs e vergonhas velhas vaticinavam a vida vil do veado. Vertia-lhe da vesícula a verdade vermelha e viscosa que venerava com veemência.
Vencido, verifica a vida que lhe varre veloz.
Violentamente as vozes vivas, que lhe valiam a vontade, vislumbram a vergonha que veste e vergam.
Vociferou vorazmente virando o verbo ao verdadeiro valor!
Visto não voltar à vaga de vivacidade, em vexame votou-se à virulenta e vulgar violência.

XAPUTA

Xerife, xilofonista e chalada por xícaras de xarope com xerez, cheirava xantina.
Xenófoba e xamã…chamavam-na xexé por usar xaile de xadrez e chapéu cheio de xantenas chafurdadas em chulé.
Chovia charme com a sua xenomania, chateando-se com xacocos. Chamuscava-os até chiarem das chacras.
O choque de um xantoma chacinou-lhe o cheiro e chocalhou-lhe os xerafins. 
Mas a xaputa não tinha chavo… e por um xelim chicoteava xeque-mates…com x-acto!

ZEBRA

Zelosa, zangava-se com o Zacarias por zombar da sua zarolhice.
Zarpava de Zundap, qual Zorro, quando um zumbido de zarabatana lhe fez ziguezague e a deixou zambeta.
Ainda zonza ouviu o Zé zombar na zona e fez zaragata.
Zafimeira, tornou-se zen num zoom ao zodíaco.
Num zurro tornou-se zaco no Zaire.
Mas, zarelha, ficou zorate e tornou-se zabaneira no zoológico.






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